domingo, 22 de janeiro de 2012

Uma carreira única para os professores federais


Projeto que será votado no Congresso Nacional diminuiria disparidades entre as classes

POR ALESSANDRA HORTO
Rio - Os docentes de universidades e das instituições de ensino federais elaboraram um projeto específico para todos os integrantes da carreira da União. O objetivo é que os principais pontos sejam inseridos no texto que será votado pelo Congresso Nacional ainda este ano. A data limite de inclusão, na proposta oficial do governo, termina em 31 de março. 

Segundo o presidente da Adufrj (Seção Sindical no Rio do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Mauro Luis Iasi, o projeto é fruto de um amplo debate com a categoria e representa o resultado de mais de 30 anos de lutas. 

Ele destaca que entre os itens mais importantes está a unificação da carreira para os docentes de universidades, colégio de aplicação e escolas tecnológicas. Para Iasi, essa medida diminuiria disparidades entre as classes.

O presidente também destaca que a proposta apresenta um cargo único denominado “Professor Federal”, que compreenderia em 13 níveis remuneratórios. “Seria a possibilidade de o professor progredir na carreira de uma forma justa”, defende Iasi.

Ele comentou que a seção sindical planeja um dia de paralisação durante a primeira quinzena de março. “Precisamos mobilizar os docentes e apresentar as nossas propostas. Será uma data importante para a nossa luta”, destacou o presidente.

A professora da Faculdade de Educação da UFRJ Mônica Pereira dos Santos, 48 anos, 13 destinados à universidade, declarou à Coluna que ama a profissão, contudo, acredita que o poder público deveria valorizar mais a carreira: “Amo o que eu faço. São 30 anos de magistério, mas nas últimas décadas a carreira foi desvalorizada. Exigem diversas situações, mas esqueceram da figura do professor como pessoa”. 

Greve nacional durante a votação do piso nacional

Professores do Nível Médio da rede pública querem entrar em greve em todo o País, na primeira semana de março. Eles reivindicam cumprimento da lei do piso nacional do magistério.
 
A paralisação foi aprovada durante a reunião do Conselho Nacional de Entidades da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.

A categoria pede a inclusão no Plano Nacional de Educação (PNE) de um norma que fixe a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) ao setor.

O Ministério da Educação informou que só vai se pronunciar após aprovação do reajuste do piso, previsto para o próximo mês.

Projeto dos docentes

ISONOMIA
A isonomia salarial será assegurada pela remuneração uniforme do trabalho prestado por professor federal do mesmo nível, regime de trabalho e titulação.

CONTRATAÇÃO
O prazo total da contratação de professor substituto, incluídas as renovações ou prorrogações, não será superior a um ano.

FORMAÇÃO CONTINUADA
Os certificados ou diplomas de aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado serão considerados títulos para comprovação da formação continuada dos professores.

ENQUADRAMENTO
Os professores aposentados e os pensionistas serão enquadrados da mesma forma que os ativos, resguardada a equivalência em relação ao topo da estrutura da carreira em vigor na data da aposentadoria.

30 anos sem Elis Regina: Ensaio de História & Política.



                                                                                        Ubiracy de Souza Braga*
                                        “Cantar, para mim, é sacerdócio. O resto é o resto”. (Elis Regina)
 Elis Regina Carvalho Costa criticou muitas vezes a ditadura militar brasileira, nos difíceis anos de chumbo (1964-1984), quando muitos músicos foram perseguidos e exilados. A crítica social tornava-se pública em meio às declarações ou nas canções que interpretava. Em entrevista, no ano de 1969, teria afirmado que o Brasil “era governado por gorilas”.  Arquivos militares mostram a cantora dizendo que tal frase foi criada pela imprensa sensacionalista. A popularidade a manteve fora da prisão, mas fora obrigada pelas autoridades a cantar o Hino Nacional durante um espetáculo em um estádio, fato que despertou a ira da esquerda brasileira.
Sempre engajada politicamente, Elis Regina participou de uma série de movimentos de renovação política e cultural brasileira, com voz ativa da campanha pela Anistia de exilados brasileiros do qual Dilma Roussef fizera parte. Mas a expressão “os anos de chumbo”, guardadas as proporções artísticas e políticas, refere-se ao longa-metragem dirigido pela cineasta Margarethe von Trotta, “Die Bleierne Zeit” (1981), em que Julianne (Jutta Lampe) e Marianne (Barbara Sukowa), filhas de um pastor protestante, se afastam da austeridade religiosa de seus pais e tentam mudar a sociedade em que viviam. Cada uma escolhe uma maneira diferente: enquanto que Juliane é uma “jornalista engajada”, sua irmã faz parte de uma organização terrorista. Quando Marianne é presa pelas autoridades, Juliane se torna seu único vínculo ético-político com o mundo fora da prisão. Daí a analogia entre três mulheres: a) na arte cinematográfica, b) na vida social através da música engajada, c) na vida política como primeira mulher presidenta da República Federativa do Brasil.
O despertar de uma postura artística engajada, com excelente repercussão acompanharia toda a carreira, de Elis Regina sendo enfatizada por interpretações consagradas de “O bêbado e a equilibrista”, de autoria de João Bosco e Aldir Blanc, a que vibrava como o hino da Anistia. A canção coroou a volta de personalidades brasileiras do exílio, a partir de 1979. Um deles, citado na canção, era o irmão do Henfil, o Betinho, importante sociólogo na “luta pela vida”. Também merece destaque, o fato de Elis Regina ter se filiado ao PT - Partido dos Trabalhadores, em 1981, onde tanto Luiz Inácio Lula da Silva, como a atual presidenta Dilma Rousseff tornam-se: “winner” na dupla acepção da palavra: “vencedor” ou “sucesso”.
            Ipso facto nas palavras de Evaristo de Moraes (1986:188), “teve a libertação do Ceará repercussão memorável em Paris. Patrocínio estava lá”. A 22 de março dirigiu ele a Victor Hugo uma carta, comunicando que dentro de três dias uma província brasileira, a do Ceará, graças aos esforços de associações abolicionistas, ia ser considerada liberta do cativeiro. Pedia a propósito, ao genial poeta, uma palavra de animação, um conselho, que servisse de encorajamento ao Imperador, no sentido da Abolição. Estando marcado para o dia 25 um banquete, Victor Hugo enviou a resposta com essa data. Ei-la:
Une province du Brésil vient de declarer l` esclavage aboli./ C` est là une grande nouvelle!/L`esclavage c`est l`homme remplacé dans l`homme par la bête; ce qui peut rester d`intelligence humaine dans cette vie animale de l`homme, appartient au maitre, selon as volonté et son caprice./De là des circonstances horribles./Le Brésil a porté à l` esclavage un coup décisif. Le Brésil a un empereur; cet empereur est plus qu`un empereur, il est um homme./ Qu`il continue. Nous le félicitons et nous l`honorons. /Avant la fin du siècle, l` esclavage aura disparu de la terre./La liberté est la loi humaine./Nous constatons d`un mot la situation du progrès: la barbarie recule, la civilisation avance” (sic).
Em assim sendo, guardadas as proporções, de tempo e de “práticas de espaço” (cf. Certeau, 1974; 1975; 1980; 1994), como no exemplo do Rio de Janeiro, com a revolta dos marinheiros na Ilha das Cobras, na baía da Guanabara, como é descrito na letra da música composta por João Bosco e Aldir Blanc, intitulada: O Mestre-Sala dos Mares e interpretada na inesquecível voz de Elis Regina. Diz assim:
Há muito tempo nas águas da Guanabara/O dragão do mar reapareceu/Na figura de um bravo feiticeiro/A quem a história não esqueceu/Conhecido como o navegante negro tinha a dignidade de um mestre-sala/E ao acenar pelo mar na alegria das regatas/Foi saudado no porto pelas mocinhas franciscanas/,jovens  polacas e por batalhões de mulatas/Rubras cascatas/Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas/Inundando o coração do pessoal do porão/ que a exemplo do feiticeiro gritava então: Glória aos piratas/As mulatas/As sereias/Glória a farofa/A cachaça/As baleias/Glória a todas as lutas inglórias que através de nossa história não esquecemos jamais/Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais/Mas salve (bis)/Mas faz muito tempo”.
Outra questão importante se refere ao direito autoral dos músicos brasileiros, estudado por Mendonça (2003), polêmica que Elis Regina, primus inter pares encabeçou, participando de muitas reuniões em Brasília (DF). Além disso, fora presidente da Assim - Associação de Intérpretes e de Músicos. Causando grande comoção nacional, faleceu aos 36 anos de idade em 19 de janeiro de 1982, devido a “complicações decorrentes de uma overdose de cocaína, e bebida alcoólica”. O laudo médico foi elaborado por José Luiz Lourenço e Chibly Hadad, sendo o diretor do IML - Instituto Médico Legal, Harry Shibata, médico conhecido por seu envolvimento no caso do assassinato do jornalista Vladimir Herzog (cf. Perosa, 1979; Jordão, 1985).

                Vlado Herzog na redação da BBC (britânica), onde trabalhou sobre produções para TV.
            Jornalista, professor da USP - Universidade de São Paulo e teatrólogo, Vlado Herzog nasceu em 1937, na cidade de Osijsk, Iugoslávia. Filho de Zigmund Herzog e Zora Herzog imigrou com os pais para o Brasil em 1942. A família saiu da Europa fugindo do nazismo. Vlado foi criado em São Paulo e se naturalizou brasileiro. Fez Filosofia na USP e tornou-se jornalista do jornal O Estado de S. Paulo em 1959. Nesta época, Vlado achava que o nome soava exótico nos trópicos e resolveu passar a assinar Vladimir. No início da década de 1960, casou-se com Clarice. Com o golpe político-militar de 1964, o casal resolveu passar uma temporada na Inglaterra e Vladimir conseguiu trabalho na BBC de Londres. Lá, tiveram dois filhos, Ivo e André.
Em 1968, a família voltou ao Brasil. Vlado trabalhou um ano em publicidade, depois na editoria de cultura da revista Visão. Em 1975, foi escolhido pelo Secretário de Cultura de São Paulo, José Mindlin, para dirigir o jornalismo da TV Cultura. Na noite do dia 24 de outubro de 1975, o jornalista apresentou-se na sede do DOI-Codi -Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna, em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB - Partido Comunista Brasileiro. No dia seguinte, foi morto aos 38 anos. Segundo a versão oficial da época, ele “teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário”. Porém, de acordo com os testemunhos de Jorge Benigno Jathay Duque Estrada e Rodolfo Konder, jornalistas presos na mesma época no DOI/Codi, Vladimir foi assassinado sob torturas.
Analogamente ocorrera em 1969 com Dilma Vana Rousseff que já vivendo na clandestinidade, usa vários codinomes para não ser encontrada pelas forças de repressão aos opositores do regime político. No mesmo ano, Comando de Libertação Nacional (Colina) e a VPR - Vanguarda Popular Revolucionária se unem, formando a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), em homenagem ao “Quilombo dos Palmares” (cf. Carneiro, 1958; Albuquerque, 1978).  Na visão de Élio Gaspari, “a organização utilizava táticas de guerrilha urbana e de terrorismo, tendo como objetivo a derrubada da ditadura militar e a instalação de um regime socialista”, segundos os moldes marxista-leninistas no Brasil. De sua fusão com o Comando de Libertação Nacional (Colina), deu origem à VAR-Palmares em homenagem ao Quilombo dos Palmares (cf. Carneiro, 1958; Albuquerque, 1978).
A VPR se recompôs posteriormente, deixando a VAR-Palmares e, em 1970, passando a organizar um campo de treinamento de guerrilheiros no vale do Ribeira. Em julho, a VAR-Palmares rouba o “cofre do Adhemar”, que teria pertencido ao ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. A ação ocorreu no Rio de Janeiro e teria rendido à guerrilha US$ 2,4 milhões. Dilma Rousseff nega ter participado dessa operação, mas há quem afirme “que ela teria, pelo menos, ajudado a planejar o assalto”. Em setembro de 1969, a VAR-Palmares sofre um racha. Volta a existir a VPR. Dilma Rousseff “escolhe permanecer na facção política VAR-Palmares - e ainda teria organizado três ações de roubo de armas no Rio de Janeiro, sempre em unidades do Exército”. Presa em 16 de janeiro de 1970, em São Paulo, o promotor militar responsável pela acusação a qualificou de “papisa da subversão”. Fica detida na Oban (Operação Bandeirantes), onde é torturada. Depois, é enviada ao Dops. Condenada em 3 Estados, em 1973 já está livre, depois de ter conseguido redução de pena no STM (Superior Tribunal Militar). Muda-se, então, para Porto Alegre, onde cursa a Faculdade de Ciências Econômicas, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Mutatis mutandis, Elis Regina fora casada com o músico Ronaldo Bôscoli (1928-1994), e de Pedro Camargo Mariano e teve Maria Rita (nascida 1977), filhos de seu segundo marido, com o pianista César Camargo Mariano (1943-). O estilo musical interpretado ao longo da carreira percorria assim o “fino da bossa nova”, firmando-se como uma das maiores referências vocais deste gênero. Aos poucos, o estilo MPB, pautado por um hibridismo ainda mais urbano e “popularesco” que a bossa nova, distanciando-se das raízes do jazz americano, seria mais um estilo explorado. Já no samba consagrou “Tiro ao Álvaro” e “Iracema” (Adoniran Barbosa), entre outros. Notabilizou-se pela uniformidade vocal, primazia técnica e uma afinação a toda prova. O registro vocal pode ser definido como de uma mezzo-soprano característico com um fundo levemente metálico e vagamente rouco.
Desde a década de 1960, quando surgiram os especiais do Festival de Música Popular Brasileira pela TV Record, até o final da década de 1980, a televisão brasileira foi marcada pelo sucesso dos espetáculos transmitidos; apresentando os novos talentos, registravam índices recordes de audiência. No Festival conheceu Chico Buarque, mas acabou desistindo de gravá-lo devido “à impaciência com a timidez do compositor”. Elis Regina participou do especial Mulher 80 pela Rede Globo de Televisão, num desses momentos marcantes para os telespectadores. O programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então, abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas: Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Elis Regina, Gal Costa e as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que protagonizaram o seriado Malu Mulher.
A antológica interpretação de “Arrastão” de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, no Festival, escreveu um novo capítulo na história da música brasileira, inaugurando a MPB - Música Popular Brasileira e apresentando uma Elis ousada. Diz assim a letra:
Ê, tem jangada no mar/Ê, hoje tem arrastão/Ê, todo mundo pescar/Chega de sombra, João/Jovi/Olha o arrastão entrando no mar sem fim/Ê, meu irmão, me traz Iemanjá prá mim/Minha Santa Bárbara/Me abençoai/Quero me casar com Janaína/Ê, puxa bem devagar/Ê, ê, ê, já vem vindo o arrastão/Ê, é a rainha do mar/Vem, vem na rede João/Prá mim/Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim/Nunca jamais se viu tanto peixe assim”.
Uma interpretação inesquecível, encenada pouco depois de completar apenas 20 anos de idade e coroada com o reconhecimento do Prêmio Berimbau de Ouro. O Troféu Roquette Pinto veio na sequência, elegendo-a a Melhor cantora do ano. Fã incondicional de Angela Maria, a quem prestou várias homenagens, Elis impulsionava uma carreira não menos gloriosa, possibilitando o lançamento do primeiro LP individual, “Samba eu canto assim” (CBD, selo Philips). Pioneira, em 1966 lançou o selo Artistas, “registrando o primeiro disco independente produzido no Brasil”, intitulado “Viva o Festival da Música Popular Brasileira”, gravado durante o festival.
Mais uma vitoriosa participação no III Festival de Música Popular Brasileira  junto à TV Record, com a canção “O cantador” de Dori Caymmi e Nelson Motta, classificando-se para a finalíssima e reconhecida com o prêmio de Melhor Intérprete. Em 1968, uma viagem à Europa a lança no mercado musical internacional, conquistando grande sucesso, principalmente no Olympia de Paris, “onde se tornou a primeira artista a se apresentar duas vezes num mesmo ano, naquela que é a mais antiga sala de espetáculos musicais de Paris”. Além disso, vale lembrar que foi Elis Regina quem também lançou boa parte dos compositores até então desconhecidos: Milton Nascimento, Renato Teixeira, Tim Maia, Gilberto Gil, João Bosco e Aldir Blanc, Sueli Costa, entre outros. Um dos grandes admiradores, Milton Nascimento, “a elegeu musa inspiradora e a ela dedicou inúmeras composições”.
Durante os anos 1970, aprimorou constantemente a técnica e domínio vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica parte do melhor da sua geração de músicos. Patrocinado pela marca Philips na mostra Phono 73, com vários outros artistas, deparou-se com uma plateia fria e indiferente, distância quebrada com a calorosa apresentação de Caetano Veloso quando afirma: “Respeitem a maior cantora desta terra”. Em julho lançou Elis. Em 1975, com o espetáculo “Falso Brilhante”, que mais tarde originou um disco homônimo, atinge enorme sucesso, ficando mais de um ano em cartaz e realizando quase 300 apresentações. Lendário, tornou-se um dos mais bem sucedidos espetáculos da história da música nacional e um marco definitivo da carreira.
Ainda teve grande êxito com o espetáculo “Transversal do Tempo”, em 1978, de um clima extremamente político e tenso; com o “Essa Mulher” em 1979, sob a direção de Oswaldo Mendes, que estreou no Anhembi em São Paulo e excursionou pelo Brasil no lançamento do disco homônimo; com o samba “Saudades do Brasil”, em 1980, sucesso de crítica e público pela originalidade, tanto nas canções quanto nos números com dançarinos amadores, direção de Ademar Guerra e coreografia de Márika Gidali (Ballet Stagium); e finalmente o último espetáculo, “Trem Azul”, em 1981, direção de Fernando Faro. Data desta época a frase: “Neste país só duas cantam: Gal e eu”.
                                      Memorial em homenagem a Elis Regina.
Historicamente falando em poucos anos, Elis Regina sai do Inferno para o Paraíso. Ao Inferno, ela chega ao ser “enterrada” no “Cemitério dos Mortos-Vivos do Cabôco Mamadô” - para onde o cartunista Henfil, no semanário O Pasquim, mandava pessoas que, na opinião dele, colaboravam com a ditadura militar no início da década de 1970. Ao Paraíso, Elis ascende ao liderar um grupo de artistas de esquerda: Fagner, Belchior, Gonzaguinha, João Bosco, Jards Macalé e Carlinhos Vergueiro, entre outros, que fazem vários shows para levantar dinheiro para o Fundo da Greve do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no ABC paulista, em 1979. Essa vivência política é um lado pouco conhecido de Elis Regina que, aos 18 anos, foi sozinha para o Rio de Janeiro, onde chegou a morar num quarto-e-sala na Rua Barata Ribeiro, 200, em Copacabana, um prédio tipo “balança-mas-não-cai”, celebrizado numa peça de teatro: “Um Edifício Chamado 200”, de Paulo Pontes.
Dirigido por Carlos Imperial, “Um Edifício Chamado 200” é um filme brasileiro de 1973, baseado em peça homônima de Paulo Pontes e José Renato. Alfredo Gamela é um carioca de 20 anos, que vive num pequeno apartamento num edifício “treme-treme” de Copacabana com sua amante Karla e, embora não tenha dinheiro, gosta de aparentar que é rico. Eles estão há dois dias sem comer, quando a situação se agrava com o aparecimento de Ana, ex-amante de Gamela, em busca de ajuda. As mulheres descobrem que Gamela vive num mundo de mentira, mas ele supera as dificuldades momentâneas vendendo seus últimos pertences. Karla e Ana saem para comprar alimentos e Gamela fica preenchendo seu cartão de Loteria Esportiva.
Desnecessário dizer que O Pasquim foi um semanário brasileiro editado entre 26 de junho de 1969 e 11 de novembro de 1991, reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar. De uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, que a princípio parecia exagerada, o semanário, que sempre se definia como um hebdomadário atingiu a marca de mais de 200 mil em seu auge, em meados dos anos 1970, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro. A princípio uma publicação comportamental que falava sobre sexo, drogas, feminismo e divórcio, entre outros, o tabloide foi se tornando mais politizado à medida que aumentava a repressão da ditadura militar, principalmente após a promulgação do repressivo ato AI-5. O Pasquim passou então a ser porta-voz da indignação social brasileira.
Em 1965, acontece o estouro: Elis Regina vence o I Festival de Música Popular, da TV Excelsior, com “Arrastão”, como vimos de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Elis fez pelo menos três shows antológicos: Falso Brilhante (1975), Transversal do Tempo (1977) e Saudade do Brasil (1980). Dos seus discos, a maioria de qualidade acima da média, o melhor é o que gravou com Tom Jobim, em 1974, nos EUA, “considerado uma obra-prima, mesmo por quem não gosta de Elis Regina”. Por causa do seu gestual no palco, agitando os braços como se nadasse de costas, Elis foi chamada de “Elis-Cóptero” e “Élice-Regina”, mas o apelido que pega, mesmo, é o que lhe dá Vinicius: “Pimentinha”. Sim, porque, dali em diante, já como estrela conhecida no país inteiro, ela iria, por assim dizer, “apimentar muitos aspectos da vida cultural brasileira, durante praticamente duas décadas”.
Do cemitério à anistia - O episódio mais apimentado da vida de Elis, sem dúvida, foi o seu “enterro” no Cemitério do “Cabôco Mamadô”. Lá, ela fez companhia a gente como Wilson Simonal, Amaral Neto que fora um deputado carioca de direita, defensor da pena de morte e alcunhado de Amoral Nato, e Flávio Cavalcanti, um apresentador de TV que liderou, metralhadora na mão, a invasão e depredação do jornal Última Hora, no Centro do Rio de Janeiro, logo no início de abril após o golpe político-militar de 1de abril de 1964. Elis foi “enterrada” por Henfil por duas atitudes em relação ao Governo Federal, na época chefiado pelo ditador-de-plantão general Garrastazu Médici, o mais sanguinário dos militares-presidentes. Primeiro, foi a gravação de uma chamada veiculada em todas as TVs, a partir de abril, conclamando o povo a cantar o Hino Nacional no dia 7 de setembro de 1972. Foi o ano do Sesquicentenário da Independência, uma data que a ditadura militar aproveitou ao máximo, inclusive com a organização de uma Mini Copa de futebol, vencida pela Seleção Brasileira.
O termo discurso pode também ser definido do ponto de vista lógico. Quando pretendemos significar algo a outro é porque temos a intenção de lhe transmitir um conjunto de informações coerentes - essa coerência é uma condição essencial para que o discurso seja entendido. São as mesmas regras gramaticais utilizadas para dar uma estrutura compreensível ao discurso que simultaneamente funcionam com regras lógicas para estruturar o pensamento. Um discurso político, por exemplo, tem uma estrutura e finalidade muito diferente do discurso econômico, mas politicamente pode operar a dimensão econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão. Vários outros artistas também apareceram em chamadas de TV, promovendo a Olimpíada do Exército, em filmes produzidos pela Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República (AERP).
A AERP foi do ponto de vista da análise comparada uma reedição atualizada do DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda (cf. Tavares, 1975; 1982a; 1982b; 1983) da ditadura do Estado Novo (1937-1946). O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) foi criado no Brasil em 1939, em substituição ao “Departamento de Propaganda e Difusão Cultural” (DPDC) que, em 1934, havia substituído ao Departamento Oficial de Propaganda (DOP), cuja estrutura obsoleta obrigou ao governo a ampliar sua abrangência. O DIP foi extinto em 1945, de modo que a criação, o objetivo e a história de todos esses departamentos se confundem com a chamada “Era Vargas”. O DIP serviu para promover propagandas da política populista de Getúlio Vargas.
Do ponto de vista ideológico criaram-se cartilhas para serem distribuídas às crianças nas escolas e para a imprensa, curtas para exibição obrigatória antes dos filmes nos cinemas e o programa radiofônico nacional “Hora do Brasil”, retransmitido em horário nobre, antes das radionovelas ouvidas por praticamente toda a classe média e alta brasileira. O DIP tornou obrigatória a presença da foto oficial de Getúlio Vargas em lugar de destaque em todos os estabelecimentos comerciais do país (padarias, boticas, armazéns, etc.), divulgando e impondo a figura do ditador em todas as instâncias da vida política e social do Brasil, numa reprodução dos métodos implantados na Alemanha nazista por Joseph Goebbels, mentor de Filinto Muller como se sabe, torturador e colaborador de Vargas. Além de implantar a revista Cultura Política (1941-1945), no Rio de Janeiro, para fazer propaganda do governo, o DIP instituiu o dia 19 de abril, aniversário do presidente Getúlio Vargas, como o “Dia do Presidente” e, por intervenção direta ou por meio da censura, obriga a imprensa a fazer propaganda da ditadura varguista.
De acordo com a revista Cultura Política, os intelectuais tinham um papel de fundamental importância na estruturação da “nova ordem”. Formadores da opinião pública, a eles cabiam a função “de unir governo e povo, traduzindo a voz da sociedade”. A revista contava com a colaboração da nata da intelectualidade brasileira, abrigando as mais diversas correntes de pensamento. Entre seus colaboradores estavam os próprios ideólogos do regime: além de Almir de Andrade, Francisco Campos , Azevedo Amaral, Lourival Fontes e Cassiano Ricardo. Mas curiosamente Graciliano Ramos, Gilberto Freyre e Nelson Werneck Sodré também colaboraram com artigos.
Por isso, guardadas as proporções, a atriz Marília Pêra, Paulo Gracindo, Tarcísio Meira e Glória Menezes, entre outros, também foram “enterrados”. A segunda atitude de Elis que provocou a ira-santa de Henfil (e um segundo “enterro…”) foi a apresentação dela na Olimpíada da Semana do Exército, em setembro do mesmo ano, 1972. Hoje, mais de 30 anos depois do “Cemitério do Cabôco Mamadô” do tabloide Pasquim, é preciso entender aqueles “tempos-de-chumbo” para compreender a postura radical de Henfil. Vivia-se um momento de intensa repressão política. Mas a razão principal do “enterro” de Elis está no próprio Henfil - um artista engajado politicamente que não fazia concessões, e pagou por isso –, que tinha um irmão exilado, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, um militante que fugiu do Brasil para não ser assassinado pelos órgãos de segurança.
Enfim, vale lembrar que a expressão “anos de chumbo” foi aplicada inicialmente a um fenômeno da Europa Ocidental, relacionado com a chamada Guerra Fria (cf. Arbex Jr., 1997) e com a estratégia da distensão. Designa o período compreendido aproximadamente entre o pós-1968 e o fim dos anos 1970, na Alemanha, ou meados dos anos 1980, na França e na Itália - anos marcados por violência política, guerrilha revolucionária armada e terrorismo de extrema esquerda e de extrema direita, bem como pelo endurecimento do aparato repressivo dos Estados democráticos da Europa Ocidental. Posteriormente a expressão passou a designar esse período de radicalização política, também fora da Europa - particularmente nos países do Cone Sul.
E o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, indiretamente, teve a ver com um dos motivos para a passagem de Elis do “Inferno para o Paraíso”: a gravação, em março de 1979, de uma das músicas politicamente mais engajadas da MPB, “O Bêbado e a Equilibrista”. De João Bosco e Aldir Blanc, a música foi uma espécie de hino de um dos mais importantes movimentos políticos da História do Brasil: a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita. A campanha foi lançada em janeiro de 1978, com a criação do Comitê Brasileiro de Anistia (CBA), no Rio de Janeiro. “O Bêbado e a Equilibrista” - que emociona até hoje, fala na “volta do irmão do Henfil”. Na época, Betinho - que, como Henfil e o outro irmão, Francisco Mário, eram hemofílicos e pegou Aids numa transfusão de sangue - estava no México, esperando, justamente, a Anistia.
A partir de 1968, com a instituição do AI-5 - Ato Institucional n. 5, inicia-se a fase de maior repressão de todo o governo militar. O fechamento do Congresso Nacional, a suspensão dos direitos políticos, a prisão e o exílio daqueles que se opunham ao poder marcaram os anos seguintes. Muitos intelectuais e cantores, como Chico Buarque e Gilberto Gil que se despede do Brasil com o samba, “Aquele Abraço” foram obrigados a deixar o país. Como vimos Elis Regina se tornou conhecida nacionalmente em 1965, ao vencer o Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, com a música “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Intensificou sua carreira no exterior em 1969, ano em que fez show nas principais capitais europeias e latino-americanas. Em 1972, o governo militar organizou um show em homenagem ao Sesquicentenário da Independência. Por causa disto. A participação de Elis nesse evento acabou levando-a ao “cemitério dos mortos-vivos”, famosa seção de quadrinhos que o cartunista Henfil mantinha no tabloide Pasquim.
Para desancar as personalidades que de alguma forma aderiam ao regime, Henfil promovia o enterro delas no jornal. Outros “mortos-vivos” enterrados pelo cartunista foram Marília Pera, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Tarcísio Meira e Glória Menezes. Cinco anos mais tarde, ela e o cartunista se tornaram grandes amigos. Convidada por Henfil, Elis aderiu à campanha pela Anistia, principalmente pela volta de Betinho, irmão do amigo. A adesão dela foi representada pela canção “O Bêbado e a Equilibrista”, gravada em 1979. No trecho, “meu Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil/com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete/chora a nossa pátria, mãe gentil/choram Marias e Clarisses no solo do Brasil”... o apelo político é explícito.
A música contém uma mensagem de esperança e otimismo ao “povo brasileiro”, para lembramos de Ribeiro (1995) evidenciado na última estrofe. Essas duas características sempre fizeram parte do repertório de Elis Regina, desejando uma situação melhor para seu país. O movimento pela anistia deu resultado, e em 1979, com a ditadura já enfraquecida, foi promulgada a Lei da Anistia. Seis anos mais tarde, em 1985, o regime militar chegava ao fim, era iniciada uma nova era na história política brasileira. Mas Elis não chegou a presenciar esse momento, infelizmente, pois morreu no dia 19 de janeiro de 1982.
Elis e Henfil: cara-a-cara – O “coveiro” Henfil e sua “defunta” Elis acabaram se encontrando, por iniciativa dela. Sobre esse momento, Henfil deu, três anos depois da morte da cantora, um depoimento tão sincero quanto comovente a Regina Echeverria, autora de “Furacão Elis” (1985). O cartunista não pediu desculpas por tê-la “enterrado”, mas se arrependeu. Os dois acabaram amigos sinceros, trabalharam juntos e se falaram até dois meses antes da morte da cantora. Com a palavra, Henfil:
- Foi igualzinho a hoje. De repente, os artistas são arrebanhados pelo Governo, só que – eu não sabia – debaixo de vara, de ameaças, para fazerem uma campanha da Semana do Exército. O que eu vi, na realidade, foi o comercial de televisão. Me aparece o Roberto Carlos dizendo: “Vamos lá, pessoal, cantar o Hino Nacional”. E, de repente, a Elis surge regendo um monte de cantores, de fraque de maestro, regendo o Hino Nacional. E nessa época nós estávamos no Pasquim e eu, mais que os outros, contra-atacando todos aqueles que aderiram à ditadura, ao ditador-de-plantão. (…). Eu só me arrependo de ter enterrado duas pessoas - Clarice Lispector e Elis Regina. (…). Eu não percebi o peso da minha mão. Eu sei que tinha uma mão muito pesada, mas eu não percebia que o tipo de crítica que eu fazia era realmente enfiar o dedo no câncer. Quando nos encontramos anos depois, (…) fomos jantar numa cantina perto do Teatro Bandeirantes e ela fez questão de sentar na minha frente. (…) De repente, ela começou a falar: “Pô, bicho, eu te amo tanto, bicho, te gosto tanto”. E eu já não estava gostando dessa história de “bicho”, porque eu não gostava do jeito que ela falava, nunca gostei. Daí me irritei e disse: “Elis, o que você está querendo dizer com isso? ”. Aí, ela começou a chorar. As pessoas na mesa enfiaram a cara no prato, todos sabiam o que eu tinha feito, só eu não sabia. Ela disse: “Pô, você me enterrou”, e começou a me esculhambar, dizendo que aquilo foi uma covardia, que ela estava ameaçada. (…) Elis nunca me perguntou se eu estava atacando porque ela estava defendendo um regime militar que queria matar meu irmão. (…) Resolvi engolir. Ela terminou de falar, entendeu meu subtexto: “Tá, Elis, eu aceito”. (…) Evidente que os militares estavam pressionando o país inteiro. Eu sabia disso, os militares faziam censura prévia no meu jornal (Pasquim), presença física, todo dia. (…) Então, tinha todo o direito de criticar uma pessoa que ia para a televisão se entregar. Eu não mudei em nada e ela percebeu isso.
Elis Regina casou duas vezes: com o compositor Ronaldo Bôscoli e com o músico César Camargo Mariano, e tiveram três filhos, o músico e produtor João Marcelo Bôscoli e os cantores Pedro Mariano e Maria Rita. Morreu em São Paulo por overdose de cocaína, às 11h45 do dia 19 de janeiro de 1982. O velório foi no Teatro Bandeirantes, por onde passaram mais de 60 mil pessoas. No dia seguinte, 20 de janeiro, Elis é enterrada no Cemitério do bairro Morumbi. Seu corpo vestia uma roupa que ela foi proibida, pela Censura, de usar no show “Saudade do Brasil” - uma camiseta com um desenho da Bandeira do Brasil onde, no lugar do dito Comtista “Ordem e Progresso”, estavam escrito: ELIS REGINA. Quer dizer: Elis Regina Carvalho Costa, politicamente falando, riu por último ao ser enterrada com a roupa censurada. Tanto que, hoje, é lembrada pela música “O Bêbado e a Equilibrista” e a Anistia, e não pela sua “passagem” pelo Cemitério dos “Mortos-Vivos do Cabôco Mamadô” do irmão do Betinho.
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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Bibliografia geral consultada:
Revista BBC history is published by triada under license from BBC, Bristol Magazines Ltd; MORAES, Evaristo, A Campanha abolicionista 1879-1888. 2ª edição. Brasília: Editora da Universidade de Brasília - UnB, 1986; CARNEIRO, Edson, O Quilombo de Palmares. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1958; ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de, “A Propósito de Rebelião e Trabalho Escravo”. In: Encontros com a Civilização Brasileira, nº 5. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, novembro de 1978; CERTEAU, Michel de, La Culture au Pluriel. Paris: Union General d`Editions, 1974; Idem, L` Ecriture de l`Histoire. Paris: Editions Gallimard, 1975; Idem, L` Invention du Quotidienne. Vol 1. Arts de Faire. Paris: Union Générale d`Editions 10-18, 1980; Idem, A Invenção do Cotidiano: (1) Artes de Fazer. Rio de Janeiro: Vozes, 1994; MENDONÇA, Amaudson Ximenes Veras, “OMB, OBRIGADO NÃO”: Análise Social sobre as Relações de Poder na Ordem dos Músicos do Brasil no Estado do Ceará (1998-2003). Dissertação de Mestrado em Ciências. MAPPS - Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade da Universidade Estadual do Ceará, 2002; KIECHALOSKI, Zeca, Elis Regina. Col. Esses Gaúchos. Porto Alegre: Tchê!, 1984; ECHEVERRIA, Regina (1985), Furacão Elis. Inclui cronologia e discografia por Maria Luiza Kfouri. Rio de Janeiro: Nórdica; Círculo do Livro. 363p. 2.ed. rev. ampl. 1994 (São Paulo: Ed. Globo); 3ª ed. 2002 (São Paulo: Ed. Globo); ARASHIRO, Osny (org.), Elis Regina Por Ela Mesma. (1995) Org. Osny Arashiro. São Paulo: Martin Claret. 2ª ed. rev. 2004; O Melhor de Elis Regina. Melodias cifradas com as letras de 28 músicas do repertório de Elis Regina. Ed. Irmãos Vitale, 2003; SARSANO, José Roberto, (2005) Boulevard des Capucines. Teatro Olympia, Paris, 1968: Elis Regina e Bossa Jazz Trio em uma época de ouro da MPB. Ed. Árvore da Terra. 207 p.; GOÉS, Ludenbergue, Mulher brasileira em primeiro lugar: o exemplo e as lições de vida de 130 brasileiras consagradas no exterior. Ediouro Publicações, 2007; PUGIALLI, Ricardo, Almanaque da Jovem guarda: nos embalos de uma década cheia de brasa, mora?. Ediouro Publicações, 2006; SILVA, Walter, Vou te contar: histórias de música popular brasileira. Editora Conex, 2002; TAVARES, José Nilo, Política em Minas; a Formação do PRM (1870-1910). “Mimeo”, 1975; Idem, Conciliação e Radicalização Política no Brasil. Ensaios de História Política. Petrópolis (RJ): Vozes, 1982a; Idem, “Imprensa na década de vinte: sociedade, política e ideologia”. In: Separata da Revista Brasileira de Estudos Políticos. Belo Horizonte: UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, 1982b; Idem, Marx, o Socialismo e o Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983; ARBEX JR., José, Guerra Fria - terror de Estado, política, cultura. São Paulo: Moderna, 1997; FERNANDES, Florestan, Nova República? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986; Idem, “Ciências Sociais: na ótica do intelectual militante”. In: Revista Estudos Avançados. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Volume 8 - Número 22, Setembro/Dezembro, 1994; RIBEIRO, Darcy, O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1995; DREIFUSS, René Armand, O Jogo da Direita Na Nova República. Petrópolis (RJ): Vozes, 1989, entre outros. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fraudes em concursos públicos :: @educa_jur

http://www.educacaojuridica.net/news/fraudes-em-concursos-publicos/#.Tw5IuhZLaQI.blogger

Denúncia sobre possível fraude em concurso público no Maranhão


 O texto abaixo é referente Carta enviada ao blog do Adonias Soares* de Presidente Dutra - MA


Olá senhor Adonias! Congratulações!
Chamo-me Marcos Aurélio e sou presidutrense, mas moro em Fortaleza CE, aqui estou dando prosseguimento aos estudos. Venho pedir divulgação em seu Blog dos seguintes fatos e boatos que se passam na cidade de Presidente Dutra em relação ao concurso público que será realizado agora no começo do ano de 2012. Sou professor de Filosofia e pretendo fazer a prova para professor Nível II da Zona Rural. Instigado pela possibilidade de conseguir uma vaga, como professor da rede pública de ensino, me inscrevi para este concurso, e exortei alguns familiares e amigos que também o façam. Afinal o concurso é PÚBLICO! Mas está havendo um ZUM ZUM ZUM em relação a ocupação das vagas abertas. Uma pessoa, a qual por questões de garantia de integridade e ética não citarei o nome, relatou que ao inquirir o vereador JARBAS Araújo sobre a realização do concurso o mesmo retorquiu que “as vagas já estão todas preenchidas”.
Agora pergunto, quem esse “servidor público” o senhor vereador Jarbas pensa que é? Tal comentário infeliz só pode ser emitido por duas razões: ignorância ou má-fé! Não sei se por irresponsabilidade ele proferiu tal coisa. O impacto que isso provoca nos possíveis candidatos tem efeitos psicológicos devastadores. Talvez tais boatos que corram pela cidade têm a intenção de varrer os concorrentes. E a pessoa que me confidenciou disse que isso já aconteceu de outras vezes, pois, existe gente ocupando cargo sem sequer haver feito provas!
É chegado o momento da população, que paga seus impostos, criar vergonha na cara e começar a cobrar pelas arbitrariedades que fazem com o dinheiro e a coisa pública nesta cidade. Sim. Porque o povo presidutrense também é culpado! Nós todos somos! Vou fazer este Concurso e garanto que vou ficar de olho em relação aos concorrentes. Não só das vagas que disputarei como daqueles outros cargos. Para coisa acontecer basta todo mundo “ficar de olho” nos picaretas! E não vou me abster de utilizar de todos os meios disponíveis para divulgar o que vier a ocorrer durante todo o certame!
Começo a partir de agora a divulgar este fato em todas as redes sociais que tenho acesso, pois as mídias alternativas, tem muito mais compromisso com a verdade do que a mídia legal, razão pela qual escolhi este espaço na rede mundial de computadores. E o senhor vereador JARBAS ARAÚJO, que procure a tribuna da Câmara dos Vereadores da cidade para se explicar! Se é que tem alguém para ouvir? Pergunto, ou serão todos coniventes! Se os cidadãos levarem tal denúncia a sério deixem que o ministério público tome conhecimento.
 Berrem! Estrebuchem! Gritem!

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons!”
                                                                                   Martin Luther King

                                                                                        Adonias Soares muito obrigado!

Prof. Mestre Marcos Aurélio

sábado, 7 de janeiro de 2012

Os AIE revividos. O “present perfect” de Louis Althusser.


                                                                                           
     Ubiracy de Souza Braga*
É razoável que um sábio apresente uma comunicação perante uma sociedade de sábios (...). Mas sê-lo-ão igualmente uma comunicação filosófica e uma discussão filosófica?” (Althusser, 1970: 11).
              Louis Althusser é considerado um dos principais nomes do estruturalismo francês dos anos 1960, juntamente com Claude Lévi-Strauss, na Antropologia, Jacques Lacan, na Psicanálise, Michel Foucault, acerca da “genealogia do saber”, ou Jacques Derrida, do ponto de vista da “metafísica da presença” e outros, como aparece em Elementos de Autocrítica. Porém, entendemos que Althusser não é estruturalista, enquanto aquele que apreende a realidade social como um “conjunto formal de relações”, pois seu pensamento é marcado fortemente por Benedito Spinoza, um dos grandes racionalistas do século XVII, dentro da chamada filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Marxista, filiou-se ao PCF em 1948. Foi um filósofo francês de origem argelina como o fora Jean-Paul Sartre. Seu nome nasceu de uma homenagem ao seu tio paterno. Segundo o filósofo, sua mãe pretendia casar-se com esse tio, mas, após a morte deste e apenas em função disso, casou-se com o pai de Althusser. Sem “pai na teoria”, seu nome advém de forma “postiça” no plano psicológico.
Desta forma ele também acreditava ser tratado como um “substituto” do tio falecido pela mãe, ao que ele atribui “um grande dano psicológico”. Após a morte de seu pai, Althusser, sua irmã e sua mãe se mudaram para Marseille, onde ele cresceu. Em 1937 ele se uniu ao Movimento da Juventude Católica representada no “campo afetivo”, pelas ideias de pensadores católicos de esquerda, tais como Jacques Maritain, Emmanuel Mounier e o Padre Lebret tiveram grande acolhida no movimento, ou como no Brasil o padre jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz (1979; 1992; 2006). Althusser fora um aluno brilhante, sendo aceito na prestigiada École Normale Supérieure (ENS) em Paris.
Entretanto, ele não pôde frequentar a Escola, pois estava convocado para a Segunda Guerra Mundial e, como a maioria  dos  soldados  franceses ou de  “colonização
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Francesa”, como fora o caso de Frantz Fanon; ficou aprisionado em um Arbeitseinsatz im Osten. Althusser acaba sendo prisioneiro permanecendo no “campo de concentração” até o final da guerra, ao contrário dos demais soldados, que fugiram para lutar - motivo pelo qual Althusser se “puniu mais tarde”. Após o fim da guerra, Louis Althusser pôde frequentar a ENS. Entretanto, sua saúde mental e psicológica estava severamente abalada, tendo inclusive recebido a “terapia de eletrochoques” em 1947.
A partir de então, Althusser sofreu de enfermidades periódicas durante o resto de sua vida. A ENS foi aparentemente simpática a sua condição, mal comparando como ocorrera com alguns professores da USP - Universidade de São Paulo, nos anos de chumbo no Brasil, permitindo que ele residisse em seu próprio quarto na enfermaria, onde ele viveu por décadas, exceto em períodos de internação hospitalar. Teve sólida formação marxista entre seus próceres, em conhecidos ensaios tais como: “A Revolução Teórica de Marx”; “A Filosofia como Arma da Revolução”; “Para uma Crítica da Prática Teórica. Resposta a John Lewis”; “Seis Iniciativas Comunistas” e, em coautoria com Etienne Balibar, “Para Ler O Capital”; “Sobre a Ditadura do Proletariado”, entre outros.
Filiou-se ao PCF - Partido Comunista Francês em 1948. Em suas notas intituladas: “Seis iniciativas comunistas” (1977: 3 e ss.), afirma:
Agradezco al Círculo UEC de Filosofía de la Sorbona el haberme invitado a este debate. Se e há dejado en libertad de escoger mi tema.Y he pensado que no había hoy, en Francia, no sólo ya para los comunistas, sino incluso para todos aquellos que quieran acabar con la ditadura de la burguesia, con su explotación, su opresión, su cinismo y sus mentiras, tema más importante que el del XXII Congreso del Partido Comunista Fancés. Presentaré, pues, una serie de breves observaciones sobre la repercusión del XXII Congreso” (Althusser, 1977: 3).
Em seu ensaio - Novos Escritos - La crisis del movimento comunista internacional frente a la teoria marxista (1978) disserta sobre algumas questões da crise da teoria marxista e do movimento Comunista Internacional:
Me siento muy honrado y emocionado de poder hablar ante todos vosotros, gracias a la amable invitación del Colegio de Aparejadores y Arquitectos Técnicos de Catalunha. Es esta la tecera vez que hablo em España. La primera vez fue en Granada, en Pascua del 76. Pronuncié una conferencia sobre si se tenía o no derecho a hablar de la existência de una filosofia marxista. La segunda vez, fue unos días más tarde en Madrid. Pronuncié la misma conferencia. Cada vez hubo varios miles etudiantes. En Granada había demasiada gente para un debate público. Em cambio, en Madrid la disposición del local permitia la discusión, a pesar de la gran cantidad de estudiantes. Se me hicieron preguntas sobre la situación política francesa e española, sobre el abandono de la ditadura del proletariado por el XXII Congreso del partido francês. Contesté a todo, pero tuvo la impresión de que uma gran parte delos oyentes opinaban que mi conferencia era demasiado filosófica y no lo suficiente política” (Althusser, 1978: 9).
Quatro anos depois se tornou professor de Filosofia da Ecole Normale Supérieure. Em 1946 Althusser conheceu Hélène Rytmann, uma revolucionária de origem judaico-lituana, oito anos mais velha. Ela foi sua companheira até 16 de novembro de 1980, “ano em que foi estrangulada pelo próprio Althusser, num surto psicótico”. As exatas circunstâncias do ocorrido não são conhecidas - uns afirmam ter se tratado de um acidente; outros dizem que foi um ato deliberado. Althusser afirma não se lembrar “claramente do fato”, alegando que, “enquanto massageava o pescoço da mulher, descobriu que a tinha matado”. A justiça considerou-o inimputável no momento dos acontecimentos e, em conformidade com a legislação francesa, foi declarado incapaz e inocentado em 1981.
                                            
           Foto: Althusser e Hélène Rytmann
Cinco anos mais tarde, em seu livro L`avenir dure longtemps, Althusser refletiu sobre o fato, pretendendo reivindicar uma espécie de “responsabilidade por seus atos” quando do assassinato, o que gerou um puzzle entre seus correligionários e detratores, sobre tal responsabilidade “ser filosófica ou real”. Althusser não foi preso, mas foi internado no Hospital Psiquiátrico Sainte-Anne, onde permaneceu até 1983. Após esta data, ele se mudou para o norte de Paris, onde viveu de forma reclusa, vendo poucas pessoas e não mais trabalhando, a não ser em sua autobiografia. Louis Althusser morreu de ataque cardíaco em 22 de outubro de 1990, aos 72 anos.
                                          
            No opúsculo “Matei Minha Mulher - a paixão do marxismo: Louis Althusser” (cf. Escobar, 1983: 13 e ss.) na 1ª Cena - “Numa grande sala da Escola Normal Superior (de Paris). Althusser enrolado num cobertor (típico cobertor de manicômio) e próximo ao público. No meio do palco o médico da Escola, o diretor da Escola e mais dois professores comentam agitados o assassínio de Helena por Althusser. Repórteres e fotógrafos esperam sua vez de entrar e entrevistar os responsáveis pela Escola. Dependendo do estudo desta primeira cena se podem fazer estes homens girarem em torno de Althusser. Uma servente também acompanha esta ação”. 
Diretor: “Senhores, ironicamente hoje é o primeiro domingo da primavera. Como todos já sabem, Louis Althusser, professor e secretário geral da École Normale Superieure, assassinou sua mulher, conforme ele mesmo nos disse. Acontecimento ocorrido ainda hoje, pela madrugada, a 16 de novembro de 1980. Tal fato, infelizmente, se deu aqui ao lado, no quarto colocado a sua disposição pela pela direção da Escola. Um dos maiores intelectuais franceses e desde 1948 militante do Partido Comunista Francês, casou com Helena, isto é, senhorita Ruytmann, em 1976, porém já se conheciam desde o fim da segunda grande guerra e juntos estiveram presentes em acontecimentos políticos e intelectuais de todo esse período. O professor Althusser, várias vezes internado em hospitais psiquiátricos, foi prisioneiro do alemães durante cinco anos na segunda guerra e todos sabem que nesse período foi barbaramente torturado. Paciente durante dezenas de anos dou doutor Diatkhine, Althusser tem sido tratado com sais de litium e seu diagnóstico sublinha sua condição de maníaco-depressivo . Oh, senhores, este é um pobre homem e este é um momento doloroso para todos nós na França e no mundo. Luis Althusser se dizia ´um filhos da Argélia` e nasceu em 16 de outubro de 1918 em Birmandreis - uma pequena comuna situada a 10 quilômetros de Arel” (cf. Escobar, 1983: 15).
            Desnecessário dizer, que Benedito de Espinoza (também Bento de Espinoza) foi o primeiro em todos os tempos a suscitar o problema do ler, e, por conseguinte do escrever, tenha sido também o primeiro no mundo a propor simultaneamente uma teoria da história e uma filosofia da opacidade do imediato; que nele pela primeira vez no mundo um homem tenha ligado a essência do ler e a essência da história numa teoria da diferença entre o imaginário e o verdadeiro - eis o que nos faz compreender por que é por uma razão necessária que Marx só pôde se tornar Marx fundando uma teoria da história e uma filosofia da distinção histórica entre a ideologia e a ciência e que em última análise essa fundação se tenha consumado na dissipação do que se chama “mito religioso da leitura”.   
            Louis Althusser em Lire le Capital (1975) afirma que por mais paradoxal que possa parecer a expressão “o que é ler”?, é possível afirmar que na cultura da história humana nosso presente corre o risco de aparecer um dia como que assinalado pela provação mais dramática e mais laboriosa possível: a descoberta e o aprendizado do sentido dos atos mais “simples” da existência: ver, escutar, falar, ler. Não é à psicologia que devemos estes conceitos perturbadores, mas a homens como Marx, Nietzsche e Freud. Depois de Freud é que começamos a suspeitar do quer-dizer o escutar, e, portanto o falar (e o calar) e o que quer-dizer do falar e do escutar revela, sob a inocência do falar e do escutar, a profundidade de uma fala inteiramente diversa, a fala do inconsciente.
Para Althusser, ou Foucault, desde Marx, deveríamos começar a suspeitar do que, pelo menos em teoria, ler e, portanto escrever “quer dizer” (veut-dire). Isto porque podemos justamente apreender nele, não somente no que ele diz, mas no que faz, a própria passagem de uma primeira ideia e prática de leitura a uma nova prática de leitura e a uma teoria da história capaz de nos fornecer uma nova teoria do ler. E melhor, “deixar que se diga” implica que se renunciou ao projeto de deter, em qualquer nível que seja, o que o texto “quer dizer” ou “queria dizer”. Ou, melhor, enquanto a Representação acredita falar-sobre, essa fala sempre é situável no desenvolvimento daquilo “que se fala”. Ou ainda, que é que se dizia, portanto, no que era dito? Ou ainda a possibilidade do dito: no que é que aquilo que era dito era fatalmente (mal)dito, pelo fato de que ele era expresso?
            Daí, toda a fragilidade no sistema dos conceitos, que constitui o conhecimento, reduzir-se à fraqueza psicológica do “ver”. E se são as omissões do ver que explicam os seus equívocos, do mesmo modo, por uma necessidade peculiar, será a acuidade do “ver” o que há a explicar suas visões: de todos os conhecimentos reconhecidos. Ou seja, atingimos assim a compreensão da determinação do visível como visível, e conjuntamente do invisível como invisível, e do vínculo orgânico que une o invisível ao visível. Assim, é visível todo objeto ou problema que se situa no terreno, e no horizonte, isto é, no campo estruturado definido da problemática teórica de determinada disciplina teórica. Impõe-se-nos tomar essas palavras ao pé da letra. Alguns autores ajudam-nos a elucidar esses termos.
A visão já não é então o fato de uma pessoa individual, dotada da faculdade de “ver” a qual é exercida quer da atenção, quer da distração; a vista é o fato de suas condições estruturais, a vista é a relação de reflexão imanente do campo da problemática sobre seus objetos e seus problemas. A visão perde então seus privilégios religiosos da “leitura sagrada”: ela nada mais é que a reflexão da necessidade imanente que liga o objeto ou o problema às suas condições de existência, que têm a ver com as condições de sua produção. A rigor, não é mais o olho (olho do espírito) de uma pessoa que vê o que existe no campo definido por uma problemática teórica: é esse próprio campo que se vê nos objetos ou nos problemas que ele define, sendo a visão apenas a reflexão necessária do campo em seus objetos.
Na linguagem teórica, as palavras e expressões funcionam como conceitos teóricos, mas em sua periodização histórica as palavras e expressões funcionam sempre de forma distinta, porque se referem a concepção de uma teoria da história. A dificuldade própria da terminologia teórica consiste, pois, em que, por detrás do significado usual da palavra, é preciso sempre discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual corrente nas fontes, nas atas, nos documentos oficiais etc. Na sua significação mais geral deve nos permitir a compreensão que tem por efeito o conhecimento de um objeto, a saber: a narrativa da história. É assim que a história abstrata ou a história em geral não existem, no sentido exato do termo, mas apenas a história real, ou “como efetivamente ocorreu” (essen Sie tatsächlich, es passierte), desses objetos concretos e singulares que enformam a experiência acumulada da humanidade.
            Diversas posições teóricas de Louis Althusser permaneceram muito influentes na filosofia marxista: “Réponse a John Lewis”; “Elements d`Autocritique”; “Soutenance d`Amiens”. Contudo, é precisamente no ensaio Sur le jeune Marx, constante no volume Pour Marx, que faz uso de um termo do filósofo da ciência Gaston Bachelard (1932; 1963; 1966) ao propor um “coupure épistémologique” entre os escritos do jovem Marx, inspirados em G. H. F. Hegel e Ludwig Feuerbach, e seus textos posteriores, propriamente marxistas (cf. Althusser, 1967; 1970a; 1970b; 1977; 1978; 1979; 1980). Seu ensaio Marxisme et Humanisme, também contido em Pour Marx, representa uma forte afirmação de “anti-humanismo na teoria marxista”, condenando ideias como o “potencial humano” e o “ser-da-espécie” (Gattungswesen), que são frequentemente apresentadas por marxistas “como uma superação da ideologia burguesa de humanidade”. No ensaio Contradiction et surdétermination, Althusser usa o conceito de “sobredeterminação”, oriundo da psicanálise (uberdeterminierung), a fim de substituir a ideia de “contradição” por um modelo mais complexo de “casualidade múltipla”, em situações políticas o que o aproxima do conceito de hegemonia de Antônio Gramsci. Como é sabido,
sus argumentos y tesis se establecieron en contra de la influencia del empirismo y el humanismo en la teoría marxista. Para Althusser, el marxismo es una ciencia (cuyo contenido científico es el continente de la historia) nacida en el momento en que Marx abandonó el hegelianismo y el humanismo y planteó la historia como la lucha de clases que promueve el cambio social. En este cambio consiste la ruptura epistemológica del marxismo”.
            Ou, como se refere Maria-Antonietta Macciocchi, em Pour Gramsci (1974: 177 e ss):
Le moment idéologique, ou moment éthic-politique, marque le passage, que Gramsci appelle ´catharis`, de la phase econômico-politique, de la phase infrastructurelle doinante à la phase idéologique, superstructurelle. ´On peut utilize le teme de ´catharsis` pour indiquer le passage dumoment purement économique (ou égoiste-passionnel) au moment éthico-politique, c`est-à-dire à l`élaboration supérieure de l`infrastructure em superstructure dans la conscience de hommes, à partir de l`infrastructure. Cela  represente également le passage de l`objectif et de la necessite à la liberté. L`infrastructure, de contrainte externe, qui ipprime l`homme, l`assimile à ele et le condamne à la passivité, se transforme en moyen de liberte, instrument servant à forger une nouvelle forme éthico-politique, source d`initiatives nouvelles. La détermination dumoment ´cathartique` devient auusi, me semble-t-il, le point de depart de toute la philosophie de al praxis…” (Macciocchi, 1974: 177-178).  
Do ponto de vista de L. Althusser, sua principal tese é o “anti-humanismo teórico” que consiste em afirmar a primazia da luta de classes e criticar a individualidade como produto da ideologia burguesa. Sua fama se deve também ao fato de ter precisado o termo “Aparelhos Ideológicos de Estado” - AIE e analisado a ideologia como espécie de prática em toda e qualquer sociedade, e não como no âmbito do marxismo vulgar como: “falsidade”, “verdade”, “erro” ou “engano” que o suposto Iluminismo eliminaria. Uma excelente, mas incompleta biografia foi publicada em francês por Yan Moulier-Boutang. Talvez a melhor apresentação de sua obra em inglês tenha sido feita por Gregory Elliot.
E de fato Althusser é amplamente conhecido como um “teórico das ideologias” (cf. Hall, “et alii”, 1980), e seu ensaio mais conhecido é Idéologie et appareils idéologiques d'état (Notes pour une recherche). O ensaio estabelece seu conceito de ideologia, também originário do conceito gramsciano de hegemonia. A teoria da hegemonia de A. Gramsci está ligada à sua concepção do Estado capitalista, que, segundo afirma, exerce o poder tanto mediante a força quanto o consentimento. Ao passo que a hegemonia é determinada, em última análise, para L. Althusser, por forças políticas, a ideologia se deriva dos conceitos do Inconsciente e da “fase do espelho” (de Freud e Lacan, respectivamente), e descreve as estruturas e sistemas que permitem um conceito significativo do Eu. Estas estruturas, para Althusser, são tanto agentes de repressão quanto são inevitáveis - é impossível escapar das ideologias ou não ser-lhes subjugado. A distinção entre ideologia e ciência, ou filosofia, não é assegurada em definitivo pela “ruptura epistemológica” (“coupure épistémologique”), pois esta ruptura não é um evento determinado cronologicamente, mas sim um processo. Ao invés de uma vitória assegurada, tem-se uma luta contínua contra a ideologia: “A ideologia não tem história”.
A tradição marxista concebe o Estado como um “aparelho repressivo”, uma “máquina de repressão”, ou, “comitê executivo da classe dominante” (cf. Marx e Engels, 1998) que permite às classes dominantes assegurar a sua dominação sobre a classe operária, extorquindo desta última a mais-valia. O Estado é, antes de tudo, o “Aparelho de Estado”, termo que compreende não somente o “aparelho especializado”, mas também o exército (que intervém como força repressiva de apoio em última instância), o Chefe de Estado, o Governo e a Administração, definindo “o Estado como força de execução e de intervenção repressiva” a serviço das frações da classe dominante.
A rejeição hegeliana parte da própria negação de estruturas hegelianas em Marx, onde a totalidade expressiva de Hegel cede lugar, na proposta althusseriana, ao “todo-estruturado”. É um todo “sobredeterminado” (uberdeterminierung) com níveis de análise e instâncias relativamente autônomas: na configuração social há, diferente da lógica dialética, “todos parciais”, sem prioridade de um “centro”. Em nível de análise do econômico opera-se a rejeição da “unicausalidade econômica” da história e das lutas sociais atribuindo-se a instâncias, até então determinadas do discurso marxista (como o político e ideológico), o peso de instâncias decisivas, dominantes em ser determinantes.
Esta renovação na explicação marxista dos processos sociais “superou” efetivamente os extremismos de se imputar invariavelmente a “causa econômica” a todos os acontecimentos sociais e políticos, negando-se a realidade dos fatos sociais ou invertendo-se a sua lógica. A rejeição da totalidade expressiva hegeliana, que nos marxistas anteriores significava “determinação e dominância” do econômico, ganha assim estatuto teórico e respeitabilidade na análise social. Althusser satisfaz, nesse caso, o problema do político dominando historicamente sobre (às vezes até contra) o econômico na sociedade. Isto é importante do ponto de vista analítico e opera uma distinção no âmbito da formação de uma Teoria das Ideologias.
Ipso facto Althusser é amplamente conhecido como um “teórico das ideologias”, e seu ensaio mais conhecido é Idéologie et appareils idéologiques d'état. O ensaio estabelece: a) seu conceito de ideologia, e, b) que relaciona o marxismo com a psicanálise. A ideologia, para ele, deriva dos conceitos do inconsciente e da “fase do espelho” (de Freud e Lacan, respectivamente), e, c) descreve as estruturas e sistemas que permitem um conceito significativo do Eu. Estas estruturas, para Althusser, são tanto agentes de repressão quanto são inevitáveis - é impossível escapar das ideologias ou não ser-lhes subjugado. A ideologia, para Althusser, é a relação imaginária do homem com a suas condições de existência, portanto, sendo transformada em práticas, reproduzindo as relações de produção vigentes. Na realização ideológica, a) a interpelação, b) o reconhecimento, c) a sujeição e d) os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE), são quatro categorias básicas. Portanto, em seu discurso sobre a Ideologia é patente sua preocupação em encontrar o lugar da “submissão espontânea”, o seu funcionamento e suas consequências para o movimento social, conforme a representação abaixo.
                                      
Para ele, a “dominação burguesa” só se estabiliza pela autonomia dos aparelhos (de produção e reprodução) isolados. O mito do Estado, como entidade incorporada pelos cidadãos e como instituição “acima da sociedade”, aparece também no estruturalismo marxista de Althusser sob a forma de “a instituição além das classes e soberana”. Assim os Aparelhos Ideológicos do Estado são a espinha dorsal de sua teoria. É a partir daí que se constrói uma visão monolítica e acabada de organização social, onde tudo é rigidamente organizado, planejado e definido pelo Estado, de tal sorte que não sobra mais nada para os cidadãos. Não há mais nenhuma alternativa a não ser a resignação ante o Estado onipresente e absolutamente dominante.
A visão aparentemente simplista dos aparelhos ideológicos como “meros agentes para garantir o desempenho do Estado e da ideologia” atraiu para Althusser as frequentes críticas de funcionalismo de Robert K. Merton à Niklas Luhmann. Isto se deve ao fato de que ele não inclui nas suas preocupações, questionamentos sobre o surgimento desses aparelhos ideológicos e sobre sua lógica, conforme a época. Não há a noção de continuidade histórica e cada fase é uma fase “em si”, no sentido hegeliano, dentro da qual as diferentes instituições se articulam, sempre de forma relativa. Assim a igreja - ou a religião -, por exemplo, não é o resultado de uma sedimentação histórico-cultural de ideias e visões do mundo, trabalho de séculos dos organizadores da cultura; não, a igreja é a instituição e seu funcionamento só é captado dentro da lógica respectiva do momento analisado. A dimensão da “tradição de todas as gerações mortas que oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Marx) desaparece.
Os clássicos do marxismo foram os representantes de um conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros analistas, como por exemplo, Jon Elster (1989). Em sua prática política, trataram do Estado como uma realidade “mais complexa” do que a definição da teoria marxista do Estado em sua progênie; porém, não a exprimiram numa teoria correspondente. Antônio Gramsci também o fez: para ele, o Estado não se resumia ao Aparelho (repressivo) de Estado, compreendendo também certo número de instituições da sociedade civil. Entretanto, Gramsci não sistematizou suas intuições, que permaneceram no estado de anotações. Na teoria marxista, o Aparelho (repressivo) de Estado compreende o governo, a administração, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões, etc. Repressivo porque o Aparelho de Estado em questão funciona através da violência (física ou não, como a violência administrativa), pelo menos em situações limite.
O Aparelho Repressivo de Estado funciona predominantemente através da violência e secundariamente através da ideologia, enquanto que os Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam predominantemente através da ideologia e secundariamente através da violência, seja ela atenuada, dissimulada ou simbólica. Os Aparelhos Ideológicos de Estado moldam por métodos próprios de sanções, exclusões e seleções não apenas seus funcionários, como também as suas ovelhas. Embora diferente, constantemente combinam suas forças. Apesar de sua aparência dispersa, os Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam todos predominantemente através da ideologia, que é unificada sob a ideologia da classe dominante. Então, além de deter o poder do Estado e, consequentemente, dispor do Aparelho (repressivo) de Estado, a classe dominante também é ativa nos Aparelhos Ideológicos de Estado.
De fato, nenhuma classe social pode, de forma duradoura, deter o poder do Estado sem exercer sua hegemonia sobre e nos Aparelhos Ideológicos de Estado simultaneamente. Comprovando sua afirmação, Althusser alerta para a preocupação de Lênin em revolucionar, entre outros, o Aparelho Ideológico de Estado escolar, de modo a permitir ao proletariado soviético que se apropriara do poder garantir o próprio futuro da ditadura do proletariado e a passagem para o socialismo. A partir dessa afirmação, pode-se concluir que os AIE são meios e também lugar da luta de classes, pois neles a classe no poder não dita tão facilmente a lei quanto no Aparelho (repressivo) de Estado e também porque a resistência das classes exploradas pode neles encontrar formas de se expressar. Assim, de forma bastante resumida, distingue-se o poder de Estado do Aparelho de Estado, o qual compreende dois corpos: a) o corpo das instituições que constituem o Aparelho Repressivo do Estado e, b) o corpo das instituições que representam a unidade dos Aparelhos Ideológicos de Estado. Atualmente, todo Aparelho Ideológico de Estado concorre - cada um da maneira que lhe é própria - para um mesmo fim, que é a reprodução das relações de produção, isto é, das relações de exploração capitalista no mundo globalizado.
Historicamente falando o número dos AIE era maior, sendo a Igreja o dominante, reunindo funções religiosas, escolares, de informação e de cultura. A revolução clássica Francesa resultou não apenas na transferência do poder do Estado para a burguesia capitalista comercial, resultando também no ataque ao Aparelho Ideológico de Estado número um - a Igreja -, substituída em seu papel dominante pelo Aparelho Ideológico de Estado escolar. Na verdade, enquanto o Aparelho Ideológico de Estado político ocupava o primeiro plano no palco, na coxia o Aparelho Ideológico de Estado escolar foi estabelecido como dominante pela burguesia. A escola se encarrega das crianças desde a mais tenra idade, inculcando nelas os saberes contidos da ideologia dominante, como a língua materna, a literatura, a matemática, a ciência, a história etc. ou simplesmente a ideologia dominante em estágio puro, como a moral, educação cívica, filosofia. E nenhum outro AIE dispõe de uma audiência obrigatória por tanto tempo precisamente no período em que o indivíduo é mais vulnerável, estando espremido entre o Aparelho Ideológico de Estado familiar e o Aparelho Ideológico de Estado escolar.
Segundo Althusser, raros são os professores que se posicionam contra a ideologia, contra o sistema e contra as práticas que os aprisionam. A maioria nem sequer suspeita do trabalho que o sistema escolar os obriga a fazer ou, o que é ainda pior, põem todo o seu empenho e engenhosidade em fazê-lo de acordo com a última orientação (os métodos novos). Eles questionam tão pouco que pelo próprio devotamento contribuem para manter e alimentar essa representação ideológica da escola, que hoje “faz da Escola algo tão natural e indispensável quanto era a Igreja no passado”. Althusser tradicionalmente se afirmava como marxista, mas seu modo de pensar a educação também pode ser enquadrado na perspectiva “funcionalista-durkheimiana”, já que em Althusser a educação tem um papel tão fundamental quanto em Durkheim. Mas enquanto este último analisa a conservação do “equilíbrio social”, Althusser busca a ruptura, a revolução. Para Althusser, o papel da educação e suas operações são determinados “fora dela”, na base econômica da sociedade - perspectiva um tanto próxima a da de Pierre Bourdieu embora este último tenha incluído a especificidade da reprodução do “capital simbólico”, mas que não trataremos agora.
Curiosamente, afirma Escobar: “É necessário que se saiba, e mais do que isso que se diga, que a ´Questão Althusser` não é dominante, entre nós, uma questão teórica, mas, sobretudo uma questão política”. Essa frase contida no artigo de Carlos Henrique Escobar, publicado na revista Leia Livros em junho de 1979, expressa bem o contexto no qual a obra de Louis Althusser repercutiu na formação social brasileira entre a segunda metade dos anos 1960 e o início dos anos 1980. Nessa conjuntura, Louis Althusser, juntamente com Antônio Gramsci, foi o filósofo marxista mais traduzido e publicado no Brasil, além de ter sido o principal alvo de diversas análises contrárias e contraditórias, como no caso do filósofo Leandro Konder, a partir da década de 1980 à sua teoria (cf. Konder, 1988). Curiosamente em seu livro “Em torno de Marx” (Boitempo, 2010; 133 páginas) na segunda parte, intitulada – “A Herança de Marx”, o autor analisa Adorno, Benjamin, Marcuse, Sartre, Lukács, Gramsci. Talvez tenha sido mal empregado a palavra herança.
Enfim, o artigo de Escobar demarca explicitamente sobre quem e quais foram às instituições que se opuseram à obra de Louis Althusser desde o início de sua inserção ao cenário intelectual brasileiro. Essa oposição encontrava-se tanto nos intelectuais vinculados ao PCB - Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, de matriz teórica lukacsiana, como Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder, por exemplo, e também parte da intelectualidade paulista vinculada ao eixo USP-CEBRAP, especialmente nos trabalhos de Fernando Henrique Cardoso e José Arthur Giannotti, ambos citados no ensaio de Escobar. Curiosamente, o filósofo marxista Leandro Konder em seu recente ensaio: Em torno de Marx (São Paulo: Boitempo, 2010: 133 páginas), inegavelmente, “navegando como um mestre da filosofia política à crítica literária”, não por acaso, na segunda parte do ensaio intitulada: “A Herança de Marx”, destaca o pensamento de Theodor Adorno, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jean-Paul Sartre, Gyorgy Lukács, Antonio Gramsci, (des) conhecendo o legado de Louis Althusser, anteriormente tratado  no ensaio A Questão da Ideologia (São Paulo: Companhia das Letras, 2002: 123)  quando chama a atenção para a advertência Althusseriana sobre os AIE: “as ideologias não ´nascem` dos AIE, mas das classes sociais em luta; de suas condições de existência, de suas práticas, de suas experiências de lutas etc.” E conclui da seguinte forma: “E com essa advertência o combativo filósofo francês procurava deixar claro que sua oposição à valorização ideológica da subjetividade não significava absolutamente nenhum abandono da disposição para a luta, característica da sua militância comunista”.
Bibliografia geral consultada:
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