segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Tapete Vermelho do Óscar 2012 - Viva a nostalgia!

                              
Ubiracy de Souza Braga*
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em inglês: Academy of Motion Picture Arts and Sciences - AMPAS, ou simplesmente, Academy, “é uma organização profissional honorária dedicada ao desenvolvimento da arte e ciência do cinema”, cujo conjunto dos indivíduos vive sob as mesmas normas e relações entre eles. Foi fundada em 11 de maio de 1927, na Califórnia, Estados Unidos da América. É composta por mais de seis mil membros. Naturalmente a maior parte de seus membros é norte-americana, mas a “filiação é aberta a cineastas qualificados de todo o mundo”. No ano de 2004 a Academia possuía em seu quadro cineastas de 36 países. É conhecida no mundo pelo seu prêmio anual, Academy Awards, conhecido informalmente como Óscar. Há também o prêmio para estudantes universitários, o Student Academy Awards, que “premia cineastas graduandos e pós-graduandos”. O atual presidente da Academia é Sid Ganis.
O termo Kulturindustrie foi cunhado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), a fim de designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. Membros da Escola de Frankfurt, os dois filósofos alemães empregaram o termo pela primeira vez no capítulo “O iluminismo como mistificação das massas” no ensaio: Dialética do Esclarecimento, escrita em 1942, mas publicada somente em 1947. Para ambos “a autonomia e poder crítico das obras artísticas derivariam de sua oposição à sociedade”. E, sobretudo o fato de que o valor contestatório dessas obras poderia não mais ser possível, já que provou “ser facilmente assimilável pelo mundo comercial”. Adorno e Horkheimer afirmavam que a “máquina capitalista” de reprodução e distribuição da cultura estaria apagando aos poucos tanto a arte erudita quanto a arte popular. Isso estaria acontecendo porque o valor crítico dessas duas formas artísticas é neutralizado por não permitir a participação intelectual dos seus espectadores. A arte seria tratada simplesmente como objeto de mercadoria, estando sujeita as leis de oferta e procura do mercado enquanto tal.
Ela encorajaria uma visão passiva e acrítica do mundo ao dar ao público apenas o que ele quer, desencorajando o esforço pessoal pela posse de uma nova experiência estética. As pessoas procurariam apenas o conhecido, o já experimentado. Por outro lado, essa indústria prejudicaria também a arte séria, neutralizando sua crítica a sociedade. Em todos os ramos da “indústria cultural” (Kulturindustrie) existem produtos adaptados ao consumo das massas, sendo por elas que as indústrias se orientam, tendo no consumidor não um sujeito, mas um objeto. Este termo define as produções artísticas e culturais organizadas no contexto das relações capitalistas de produção, uma vez lançadas no mercado, é por estes consumidas. Enfim, a indústria cultural idealiza produtos adaptados ao consumo das massas, assim como também pode determinar esse consumo trabalhando sobre “o estado de consciência e inconsciência das pessoas”. Ela pode ainda ter função no processo de acumulação de capital, reprodução ideológica de um sistema, reorientação de massas e imposição de comportamento.
Quando o assunto é o existencialismo no cinema, os críticos se dividem. Há uma corrente de pensamento que acredita que Jean-Paul Sartre influenciou cineastas em suas produções. E há aquelas que preferem crer nas coincidências. E existem na história fatos sociais que comprovam alguma relação do filósofo com a Sétima Arte. Como por exemplo, sua atuação como roteirista. De acordo com o artigo “A Estética Existencialista”, publicado na Enciclopédia de Filosofia de Stanford em 26 de junho de 2009, o filósofo escreveu roteiros durante a Segunda Guerra Mundial, em sua temporada como empregado de uma produtora: “Huis clos”, entre nós, lançado como “Entre Quatro Paredes”, “Les jeux sont faits”, em português: “Os Dados Estão Lançados” e “I Sequestrati di Altona”, em português: “O Condenado de Altona” foram os que resultaram em filmes.
                       Foto: Capa do filme “Entre Quatro Paredes”, de Jean-Paul Sartre.
De fato o século XX consumou um processo iniciado no século XIX, promovendo o ingresso da produção artística na “era de sua reprodutibilidade técnica”, para concordarmos com o Walter Benjamin de 1935. A aura que existia em torno das obras de arte originais como manifestação de uma “realidade distante”, mesmo quando próxima como ocorre entre nós com a igreja Matriz ou o centro de Arte e Cultura Dragão do Mar, na cidade de Fortaleza, a igreja da Penha ou o Cristo Redentor, na cidade Maravilhosa, ou local mais visitado da cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, a estátua do Padre Cícero, com 27 metros de altura, que está localizada na Serra do Horto. Padre Cícero morreu em 20 de julho de 1934. A estátua foi esculpida pelo artista Armando Lacerda no ano de 1969, ou, para sermos breves, o Farol da Barra, em Salvador, onde os Novos Baianos cantavam: “onde tudo é tão rápido como se furta”, tendem a desaparecer naquele benjaminiano. No lugar deles, cresce o “valor de exposição”, ligado à possibilidade de que as criações artísticas reproduzidas em ampla escala sejam postas imediatamente ao alcance de um número enorme de pessoas. O cinema, seguindo a trilha aberta por Benjamin é o melhor exemplo dessa nova característica. O filme já nasce multiplicado em muitas cópias para tornar-se rentável, exibido em salas, cinemas, cidades, países numa escala globalizada. E como Benjamin não tem uma posição hostil ao cinema, ele enquanto arte é o melhor exemplo dessa nova característica.
A história social da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood revela três filmes como os mais premiados “de sempre”, tendo arrecadado 11 estatuetas douradas cada um: a) “Ben-Hur”, o grandioso épico realizado em 1959 por William Wyler; b) “Titanic”, realizado em 1997, o maior sucesso de bilheteira “de sempre”, realizado por James Cameron; e, c) “O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei” (2003), última parte da trilogia que Peter Jackson adaptou do monumento literário da autoria de J. R. R. Tolkien. Dos três, o último tem a particularidade de ter vencido em todas as categorias em que foi nomeado, embora muitas delas sejam técnicas e não incluam as “sempre prestigiantes categorias de representação”. Quanto a “Ben-Hur”, falhou apenas uma das suas 12 nomeações - na categoria de Melhor Argumento Adaptado. Finalmente, “Titanic” foi o mais nomeado dos três com 14 nomeações, tendo perdido nas categorias de Melhor Atriz Principal (Kate Winslet), Melhor Atriz Secundária (Gloria Stuart) e Melhor Caracterização. Encontram-se dois filmes  que  venceram 10 óscares: “West Side Story - Amor Sem Barreiras” (1961), de Robert Wise e Jerome Robbins; e “E Tudo o Vento Levou” (1939), de Victor Fleming.
O famoso musical só perdeu na categoria de Melhor Argumento Adaptado, enquanto o clássico com Clark Gable e Vivien Leigh perdeu nas categorias de Melhor Ator (Clark Gable), Atriz Secundária (Olivia De Havilland), Banda Sonora, Efeitos Especiais e Som. Em compensação, venceu um óscar honorário e outro técnico. Com nove óscares ganhos, existem três filmes: “Gigi” (1958), de Vincent Minnelli; “O Último Imperador” (1987), de Bernardo Bertolucci; e “O Paciente Inglês” (1996), de Anthony Minghella. Os dois primeiros venceram em todas as categorias em que estavam nomeados, enquanto o último perdeu três das suas 12 nomeações, duas delas para os seus atores principais (Ralph Fiennes e Kristin Scott Thomas). Finalmente, há seis filmes que venceram oito óscares: “Até à Eternidade” (1953), de Fred Zinnemann; “Há Lodo no Cais” (1954), de Elia Kazan; “My Fair Lady” (1964), de George Cukor; “Cabaret - Adeus Berlim” (1972), de Bob Fosse; “Gandhi” (1982), de Richard Attenborough; e “Amadeus” (1984), de Milos Forman.     
                            Foto da Estatueta do Óscar (Ethan Miller/AFP).
As célebres estatuetas dos Oscar, entregues anualmente nos Estados Unidos, para premiar astros e estrelas e as produções do cinema mundial são, ainda hoje, fabricadas artesanalmente num estabelecimento de Chicago. Sua elaboração passa por um longo processo: em primeiro lugar, uma liga de metal derretido, na forma de duas grandes gotas de água de estanho, é colocada delicadamente em moldes para esfriar. Em seguida, vem a parte do corte dos excessos e o polimento propriamente dito, que exigem 40 longas e delicadas horas de trabalho, como parte do preparo das figuras para as luzes de Hollywood. A Academia que concede o prêmio mais famoso da indústria do cinema americano está determinada a conservar este processo de fabricação artesanal, devido à sua qualidade. Um dos riscos que não quer incorrer é ver repetir o episódio da entrega dos Golden Globes, outros prêmios do cinema, quando o ator norte-americano Robert De Niro chegou para a entrevista à imprensa sem seu troféu, porque a estatueta em questão perdeu a cabeça. “A parte de cima caiu”, disse ele aos jornalistas, acrescentando: “eles terão que soldá-la novamente”.
Historicamente de Greta Garbo a Helen Mirren, passando por Elizabeth Taylor, foram muitas as atrizes que interpretaram “rainhas inesquecíveis no cinema”. A lendária atriz sueca Greta Garbo interpretou em 1933 uma memorável Rainha Cristina em “A Rainha Cristina”, de Rouben Mamoulian, marcando o regresso da atriz ao cinema após um ano e meio de interregno. No século XVII, a Rainha Cristina da Suécia é uma governante europeia de grande relevo que nunca pensou em romance, até que um dia se apaixona secreta e acidentalmente por um emissário espanhol. Outra rainha mítica é Cleopátra, interpretada por Elizabeth Taylor no filme homónimo realizado por Joseph L. Mankiewicz em 1963. Taylor, Richard Burton (como Marco António) e Rex Harrison (como Júlio César) são as estrelas desta arrebatadora história de poder e traição. Trata-se de um inesquecível retrato desta poderosa mulher de irresistível beleza que seduziu dois dos mais notáveis soldados romanos e mudou o rumo da História. Grandioso do ponto de vista visual e técnico, o filme foi premiado com Óscares nas categorias de Melhor Fotografia, Direção Artística, Guarda-Roupa, Cenários e Efeitos Especiais.
Cate Blanchett fez um poderoso retrato da Rainha Elizabeth de Inglaterra no filme com o mesmo nome de Shekhar Kapur, em 1998. No século XVI, sob o reinado da rainha católica Mary I, o país ficou arruinado e devassado pelas lutas religiosas, na sua tentativa de impor o catolicismo. Sucede-lhe Elizabeth Tudor, filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, que restabelece o protestantismo, sendo excomungada pelo Papa, o que abre as portas à inimizade da França e de Espanha. Aconselhada a um casamento de conveniência para obter uma aliança que lhe permita manter a coroa, Elizabeth sabe que tem que agir com firmeza, se não quiser sucumbir à Europa e à nobreza católica de Inglaterra. O filme impulsionou Cate Blanchett para uma carreira internacional, que teve aqui uma das suas grandes interpretações, tendo vencido o Globo de Ouro de Melhor Atriz e obtido a nomeação para o Óscar da mesma categoria. Retomou o mesmo papel na sequela - “Elizabeth: A Idade de Ouro” (2007) - e foi nomeada outra vez para o Óscar de Melhor Atriz. Vencedora do Óscar de Melhor Atriz foi Helen Mirren pelo seu papel de Rainha Isabel II em “A Rainha” (2006), de Stephen Frears. Aclamado pela crítica, o filme retrata os acontecimentos que tiveram lugar imediatamente a seguir à morte da Princesa Diana e a forma como a Rainha e o primeiro-ministro Tony Blair lidaram com a situação. Finalmente, uma nota para a excelente Rainha Vermelha encarnada por Helena Bonham-Carter na recente versão de Tim Burton de “Alice no País das Maravilhas” (2010). Uma versão livre - e muito conseguida - da Rainha de Copas do clássico de Lewis Carroll.
Os casos mais escandalosos lembra Brito (2012), “são os de 1952 e 1974”. Em 1952 os indicados “Depois do vendaval” (John Ford), “Matar ou morrer” (Fred Zinnemann) e “Moulin Rouge” (John Huston) perderam para “O maior espetáculo da terra”, filme tolinho e menor de Cecil B DeMille. Já em 1974 os ótimos “Todos os homens do presidente” (Alan Pakula), “Rede de intrigas” (Sidney Lumet) e “Taxi driver” (Martin Scorsese) foram derrotados por “Rocky, o lutador” (John G. Avildsen). Pode? Bem, estes foram injustiçados, mas pelo menos estiveram na lista dos indicados como melhores filmes do ano. Pior é quando nem a indicação aconteceu. Sim, bem mais grave do que o erro na premiação, é o gesto de ignorar, ou seja, o gesto de sequer indicar filmes que tinham qualidade para ganhar.
 Em ordem cronológica, segue aqui uma relação de grandes filmes, hoje considerados clássicos em seus respectivos gêneros, que nunca tiveram nenhuma indicação ao Oscar - e vejam bem! - em “nenhuma das muitas categorias pelas quais se premiam os melhores do ano”. O primeiro é o belo “Luzes da cidade” de Chaplin (1931), vocês lembram, a comédia dramática sobre uma “violetera cega” que se cura com uma operação paga pelo mendigo Carlitos. A impagável comédia “O diabo a quatro” (1933) com os irmãos Marx. No mesmo ano está a fantástica aventura de Merian C. Cooper, “King Kong”, sobre o macaco gigante que quase destrói o Empire State Building. Protagonizado por Claude Rains, e dirigido pelo mestre James Whale, “O homem invisível” (1937) ainda hoje é tido como um dos ótimos “science-fiction de terror do século”. No ano seguinte, a comédia maluca de Howard Hawks, “Levada da breca” tinha qualidade para competir com os indicados do ano, e não viu nem o “azul da indicação”.
 Outro Chaplin ignorado foi “Tempos modernos” (1935), filme fundante sobre os efeitos do automatismo no trabalho. Idem, para “Contrastes humanos” (1941) de Preston Sturges, essa obra prima pouco conhecida do público, talvez pela falta de indicação. Em 1946, três grandes filmes foram esnobados: o noir “À beira do abismo” (Howard Hawks), o western “Paixão dos fortes” (John Ford) e o drama “Gilda” (Charles Vidor). Em 1948 foi a vez de “Carta de uma desconhecida”, o belo melodrama de Max Ophuls, e “A dama de Shangai”, o suspense misterioso de Orson Welles. Em 1950 “Winchester73”, o western de Anthony Mann “passou batido”, e em 1953 quem ficou de fora foi o forte drama policial de Fritz Lang, “Os corruptos”. Em 1955 não deram nenhuma chance a “O mensageiro do diabo”, aquele único filme que o ator Charles Laughton dirigiu com extremo capricho. Em 1956 John Ford ficou no escanteio mais uma vez, com o seu filme “Rastros de ódio”, mais tarde incluído na lista dos dez mais da crítica internacional.
Em 1957, quatro grandes filmes foram aparentemente ignorados pela Academia, a saber: a) “A embriaguez do sucesso” (Alexander McKendrick), b) “O homem errado” (Alfred Hitchcock), c) “Glória feita de sangue” (Stanley Kubrick) e, finalmente, d) “Um rosto na multidão” (Elia Kazan), sem coincidência, todos os filmes fortes, livremente baseados em situações reais. Em 1958 foi esquecido o excelente science-ficction de Don Siegel “Vampiros de almas”, como também o drama policial de Orson Welles “A marca da maldade”, em que Charlston Heston tanto investiu afetivamente, para poder atuar ao lado de Welles. E em 1959 foi a vez de “Onde começa o inferno”, mais um Howard Hawks desconsiderado.
Em 1961 a Academia teve a petulância de esnobar uma produção que reunia John Huston (diretor), Arthur Miller (roteirista), Montmongery Clift, Clark Gable e Marilyn Monroe: “Os desajustados” (“The Misfits”). No ano seguinte, “Pistoleiros ao entardecer” esse “comovente western maduro de Sam Peckimpah bem que poderia ter estado entre os indicados”. Outro western da década de 1960 que não teve uma só indicação foi “Era uma vez no Oeste” (Sergio Leone, 1968). A homenagem que Woody Allen (roteirista e ator) fez a “Casablanca”, “Sonhos de um sedutor” (1972), tampouco mereceu indicação. Quase ninguém se dá conta, mas “O iluminado” de Kubrick não teve a mais simples indicação em 1980. E para não estender mais a lista (pois ela é muito maior do se  pode pensar) “Era uma vez na América” (1984), essa bela saga da máfia por Sergio Leone foi mais um dos ignorados pela Academia de Hollywood. Com favoritos muito a frente dos outros, tudo indica que a premiação deste ano será previsivelmente tranquila e sem surpresas, mas isto, certamente não nos fará esquecer o passado.
Nas várias categorias da lista dos indicados, notem a quantidade de filmes - cerca de dez - cujas estórias se passam na primeira metade do século XX, ou mesmo antes. É verdade que alguns desses filmes não foram “rodados” em Hollywood, mas, de todo jeito, o fato de a Academia os indicar ao Prêmio sugere o centramento no passado, talvez de um ponto de vista nostálgico. Para começar com os dois mais cotados ao Óscar, “A invenção de Hugo Cabret” (“Hugo”, Martin Scorsese) se passa na Paris dos anos 1930, e “O artista” (“The artist”, Michael Hazanavicius), na Hollywood de 1927/33, quando o som “havia chegado e abalado o cinema mudo”. E, engraçado, sintam o quiasmo: nos mesmos anos 1930, Paris vista por norte-americanos e Hollywood vista pelo olhar dos franceses.
Complicando o quiasmo, o filme de Woody Allen, “Meia noite em Paris” (“Midnight in Paris”) “só parcialmente tem a Paris de hoje como assunto” - nele o grande lance é mesmo “o mergulho retroativo nos anos 1920”, onde o protagonista vai encontrar tudo o que interessa a uma mente criativa, e - sintam a ironia - o cara tem que profissão? Sim, roteirista de Hollywood! E, claro, um roteirista em crise. Depois de sua longa e abstrata introdução atemporal, “A árvore da vida” (“The tree of life”, Terence Mallick) se centra na estória de uma relação entre pai e filho nos anos 1950. Já “Cavalo de guerra” (“Warhorse”, Steven Spielberg) cavalga mais para trás ainda, relatando o paradeiro do animal do título, e seu tempo fica em torno da Primeira grande Mundial (1914/1918).
 Com Meryll Streep no papel-título, “A dama de ferro” (“The iron lady”, Phyllida Lloyd) reconstitui a vida da poderosa Primeira Ministra britânica, e claro, o tempo diegético inevitavelmente recobre boa parte do século passado, começando nos anos 1940. E por falar em Inglaterra, “Sete dias com Marilyn” (Simon Curtis, “My week with Marilyn”), como o título já sugere, remonta à década de 1950, na ocasião em que Laurence Olivier tentava filmar “O príncipe encantado” (1957) com a mítica e problemática Monroe. Já “Histórias cruzadas” (“The help”, Tate Taylor) se reporta ao começo dos anos 1963 quando uma pretensa escritora recolhe, no racista condado de Mississipi, “depoimentos de uma comunidade negra feminina”.
 O mais remoto no tempo diegético, dos indicados, é com certeza “Albert Nobbs”, (Rodrigo Garcia), que, contando a difícil estória dessa mulher que se disfarça de homem para sobreviver (Glenn Close), se passa na Irlanda do século XIX. Ou seja, nesse esquema geral de remissão ao passado, “Os descendentes”, “O homem que mudou o jogo” e “Tão forte tão perto” - filmes com estórias contemporâneas - parecem exceções. E vejam que até um não indicado (mas que bem poderia ter sido!) também se reporta ao passado. Refiro-me ao último filme de Clint Eastwood, “J. Edgar”, “semi-biografia” do diretor do FBI que, por trás de sua perigosa fachada de déspota, escondia um perigo - para a época - maior: a sua homossexualidade. Uma reportagem da AP afirmou que os prêmios Globo de Ouro destaca apoio de Hollywood “para a homossexualidade e transexualidade”.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou no dia  26 de abril, o calendário oficial da 84ª edição do Oscar, a principal premiação do cinema mundial. A cerimônia mais importante da Sétima Arte acontecerá hoje, dia 26 de fevereiro de 2012, mas antes desta data os mais de seis mil membros da associação  cumpriram uma série de prazos da premiação. Os votantes tiveram até o dia 13 de janeiro para apontar seus indicados, enquanto que a lista completa destes fora anunciada no dia 24 de janeiro. Com as indicações oficiais, os integrantes da Academia recebem prazo para nova votação, agora incluindo apenas os filmes finalistas. A data final para a votação definitiva do Oscar foi 21 de fevereiro. O tradicional jantar dos indicados aconteceu na segunda-feira, 6 de fevereiro. Ainda não existem nomes cotados para a apresentação do evento, mas após as críticas recebidas por Anne Hathaway (“O Diabo Veste Prada”) e James Franco (“Homem-Aranha”) este ano tem se apontado para a possibilidade de buscarem um nome mais tradicional, como Billy Crystal (“Os Queridinhos da América”).
No caso brasileiro, o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, recebeu 15 inscrições de filmes de longa-metragem interessados em concorrer à premiação. As inscrições encerraram-se no dia 31 de agosto 2011. Coube à Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC) prestar apoio técnico, administrativo e financeiro à Comissão de Seleção, cujos membros não podem ter qualquer vínculo com os filmes concorrentes, sob pena de desclassificação da inscrição considerada irregular. Saibam quais são as produções brasileiras inscritas (títulos em ordem alfabética): “A Antropóloga”, de Zeca Nunes Pires - Mundo Imaginário Produções Cinematográficas LTDA.; “As mães de Chico Xavier”, de Glauber Filho e Halder Gomes - Luz Produções Cinematografia LTDA; “Assalto ao Banco Central”, de Marcos Paulo - Total Entertainment; “Bruna Surfistinha”, de Marcus Baldini - Tvzero Cinema LTDA; “Estamos Juntos”, de Toni Venturi - Olhar Imaginário Ltda; “Família Vende Tudo”, de Alain Fresnot - A. F. Cinema e Vídeo; “Federal”, de Erik de Castro - BSB Cinema Produções; “Filme Vips”, de Toniko Melo - 02 Cinema Ltda; “Histórias Reais de um Mentiroso VIPS”, de Mariana Caltabiano - Mariana Caltabiano Criações; “Lope”, de Andrucha Waddington - Conspiração Filmes S/A; “Malu de Bicicleta”, de Flávio Ramos Tambellini - Tambellini Filmes e Produções Audiovisuais; “Mulatas! Um Tufão nos Quadris”, de Walmor Pamplona - Carioca Filmes; “Quebrando o Tabu”, de Fernando Grostein Andrade - SPRAY Filmes S/S LTDA; “Trabalhar Cansa”, de Juliana Rojas e Marco Dutra - Dezenove Som e Imagem; “Tropa de Elite 2”, de José Padilha - Zazen Produções Audiovisuais Ltda.
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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Bibliografia geral consultada:
ADORNO, Theodor W., “Ideias para a Sociologia da Música”. In: Teoria e Prática. São Paulo: Teoria e Prática Editora, nº 3, abril de 1968, Idem, “Tiempo Libre”. In: Consignas. Buenos Aires: Amorrortu, 1969a; Idem & HORKHEIMER, Max, Dialektik der Aufklärung. Frankfurt/M, 1969b; Idem, Teoria Estética, Arte e Comunicação. São Paulo: Martins Fontes, 1970; Idem, Dialéctica del Iluminismo. Buenos Aires: Sul, 1971; ADORNO, Theodor Adorno e HORKHEIMER, Max, “A indústria cultural - o iluminismo como mistificação das massas”. In: Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002; BENJAMIN, Walter, L`opera d`arte nell`epoca della riproducilità técnica. Turim: Einaudi, 1966; Idem, “L` ouvre d` art à l` ere de sa reproductibilité techinique”. In: L` Homme, le langage et la culture. Paris: Danoël, 1971; Idem, A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980; BRITO, J. B. de, “Oscar - os ignorados”. http://imagensamadas.com/tag/academia-de-hollyood, 2012; COHN, Gabriel, Comunicação e indústria cultural. 2ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1971; AUGÉ, Marc, La Guerre des Rêves. Exercices d’Ethno-Fiction. Éditions du Seuil, avril 1997; BARILE, G., “et alli”, Economia e Politica dei Mass Media. Tra produzione di merci e produzione di senso. Milano: Franco Angeli Editore, 1979; BOBBIO, Norberto, “Gramsci e la concezione della societá civile”. In: Gramsci e la cultura contemporânea. Editori Riuniti, 1960, vol. I; BRAGA, Ubiracy de Souza, “De las Carabellas a los Autobuses Espaciales: la Trayectoria de la Información en el Capiatlismo”. In: Info 97. Ponencias. Cuba: Universidad La Habana, 1997; BRECHT, Bertolt, Über Politik und Kunst. Suhrkamp Verlag: Frankfurt am Main, 1971; DELEUZE, Gilles, Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 1974; Idem, Cinéma I: l` Image-Mouvement. Paris: Minuit, 1983; Idem, Cinéma II: l` Image-temps. Paris: Minuit, 1985 entre outros. 

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